SURGE O REALIZADOR
A revolução de 30 deu um idealista da mesma têmpera de Couto Magalhães a Goiás. A 22 de Novembro desse ano assumiu o Governo do Estado, como interventor Federal, o médico Pedro Ludovico Teixeira. Quem era esse Homem ? Nasceu na virada do século, em 1.891, na cidade de Goiás. No Rio de Janeiro onde se formou em Medicina, tornou-se amigo de Lima Barreto e de Olavo Bilac e defendeu tese sobre a histeria, numa época em que todas as teorias de Freud eram completa novidade. De volta a Goiás, instalou sua clínica em Rio Verde, mas achava a vida monótona e caiu em melancolia. As viagens ao Rio combatiam o tédio, que ele venceu ao descobrir dois amores da vida inteira: A política e Dona Gercina Borges, com quem se casou.
Governou o estado em cinco períodos, como Interventor ou
Governador (eleito duas vezes). O construtor de Goiânia lutou
pela construção de Brasília, defendeu as reformas sociais e
o voto dos analfabetos. Foi senador eleito em três mandatos,
o último interrompido com a cassação de seus direitos
políticos, em 1.968. Continuou ativo, lutando pela
redemocratização do País. Faleceu em 1.979.
(na foto) - Em frente ao Palácio improvisado, pioneiros aguardam a notícia da transferência definitiva da capital. Lá dentro, Pedro Ludovico, assina o decreto.
GOIÁS, UM SONHO SECULAR
Encravada nas montanhas e construída em solo rochoso, a cidade de Goiás, capital do Estado, tinha de encanto o casario colonial, cujos quintais terminavam em córregos de água fresca. Nos salões da oligarquia, herdeira da riqueza criada pela exploração do ouro, falava-se tanto o francês quanto o português, as igrejas construídas por escravos ostentavam imagens barrocas pintadas a ouro, obra do escultor Veiga Valle. Mas o luxo dos livros e das sedas importadas convivia com a desesperança de uma cidade onde, nas primeiras décadas deste século, já não se construía mais do que uma casa por ano, e nas noites de luar, o lirismo das serenatas era pontuado pelos gemidos da febre, provocada pelo esgoto a céu aberto. Já em 1.830, o Marechal de Campo Miguel Lino de Morais, segundo Governador de Goiás no Império, lançou em primeira mão, a idéia da mudança da capital goiana. Imaginou-a no norte, nas proximidades de Água Quente, consoante notícia o historiador
Americano do Brasil, acrescentando que a opinião não agradou a espírito da população da cidade. O argumento contrário à primeira vista, pareceu decisivo. Como poderia um Estado pobre, supremamente pobre, um governo sempre endividado, permitir se o luxo de construir uma nova capital? Desde o ponto de vista, a construção de Goiânia podia ser qualificada de "loucura", de "catástrofe para a economia goiana", ou simplesmente de "ato de prepotência".
Reapareceu em 1.863, prestigiada agora pelo gênio de Couto Magalhães, misto admirável de guerreiro e administrador, que a expôs em seu livro "Primeira Viagem ao Rio Araguaia". São palavras suas: "Temos decaído desde que a Indústria do ouro desapareceu. Ora, a situação de Goiás era aurífera. Hoje, porém, que está demonstrado que a criação do gado e agricultura valem mais do quanta mina de ouro há. Continuar a capital aqui, é condenar-nos a morrer de inanição, assim como morreu a indústria que indicou a escolha deste lugar ". Depois dele foram legisladores goianos que sustentaram, por algum tempo, acesa essa idéia. A constituição do Estado de 1.891, inclusive sua reforma de 1.898, e a de 1.918 previam taxativamente a transferência da sede do governo, havendo disposto esta última, em seu artigo 5º: "A cidade de Goiás continuará a ser a capital do estado, enquanto outra coisa não liberar o Congresso".
PLANEJAMENTO DA CIDADE
O centro administrativo em construção na
praça Cívica (foto de 1963)
O interventor, na seqüência natural das diversas fases da iniciativa, continuava a tomar providências a respeito da edificação da cidade. A 6 de julho baixou um decreto encarregando o urbanista Atílio Corrêia Lima, representante da firma carioca P. Antunes Ribeiro e Cia, da elaboração do projeto, mediante o pagamento de Cr$ 55.000,00. Formado na Suíça e na França, de onde acabara de voltar, o urbanista Armando de Godoi assina em 1.935 o plano diretor da nova capital.Um projeto estilo monumental, baseado nos mesmos princípios adotados em Versailles, Kalrsruhe e Washington. O plano tinha como referência o projeto original da cidade, idealizado em 1.933, por outro urbanista, Atílio Corrêia Lima, também autor do projeto de prédios importantes, como o Palácio das Esmeraldas.
Foi um grande falatório: desvario dos modernistas planejar uma cidade para 15 mil habitantes, quando a antiga capital, dois séculos depois de fundada, contava com apenas 9 mil moradores. Topografia, zoneamento e sistema de tráfego são os fatores que norteiam o arrojado projeto. A cidade é dividida em três setores, central, destaque para a Praça Cívica, sede do Centro Administrativo, de onde se irradiam as grandes avenidas, No dia 24 de outubro de 1.933 é lançada a pedra fundamental.
ASPECTOS FÍSICOS DE GOIÂNIA
Situado na Mesoregião centro goiano e na Microregião de Goiânia, com área de 743 quilômetros quadrados, o município é limitado ao norte pelos municípios de Nerópolis e Goianápolis; ao sul pelo de Aparecida de Goiânia e Aragoiânia; a leste pelo de Bela Vista de Goiás e Senador Canedo; a Oeste, pelos de Trindade,Abadia de Goiás e Goianira. Situado em região de topografia quase plana, o território surge como degrau de acesso às terras mais elevadas do Brasil Central. O rio Meia Ponte e seus afluentes, entre os quais se destaca o ribeirão João Leite, e constituem a rede hidrográfica de Goiânia. Clima mesotérmico e úmido. Temperatura média anual de 21,9° C, devido a influência de altitude. Temperaturas mais baixas ocorrem de maio a agosto, 18,8° a 21.0 C°, meses em que a média das mínimas oscila de 9,8° C a 12,9° C. Goiânia completou em 24 outubro de 1.998, 64 anos (sessenta e quatro) , não da sua inauguração, que foi em 20 de Novembro de 1.935, mas do lançamento de sua pedra fundamental, que foi em 24 de Outubro de 1.933, idealizada por Pedro Ludovico Teixeira. Planejada para 50 mil habitantes, Goiânia tem hoje uma população estimada em 1.002.377 habitantes, de acordo com os dados do IBGE, com base no Censo realizado em 96 pelo mesmo.
GOIÂNIA - EIS O NOME
Precisava dar-se nome à Nova Capital. Em outubro de 1.933, o semanário "O Social", havia instituído um curioso concurso a respeito. Leitores de todo o Estado contribuíram, sendo interessante relembrar os nomes mais votados. Eis alguns: Petrônia, Americana, Petrolândia, Goianópolis, Goiânia, Bartolomeu Bueno, Campanha, Eldorado, Anhanguera, Liberdade, Goianésia, Patria Nova, entre outros.Ninguém todavia, sabia como ia chamar-se a cidade. Só em 2 de Agosto de 1.935, Pedro Ludovico Teixeira usou, pela primeira vez, o nome Goiânia, que envolvia Campinas, Hidrolândia e parte dos territórios de Anápolis, Bela Vista e Trindade. O nome de Goiânia é de Autoria do Professor Alfredo de Castro. Os limites geográficos dificilmente podem ser identificados, pois está praticamente emendada com as cidades circunvizinhas, ou de entorno, formando a chamada Grande Goiânia.
DOAÇÃO DE TERRAS
Nas terras desmatadas surgiam os primeiros acampamentos
O Tabelião de Campinas, Manuel Aranha dos Reis, registra em linguagem gongórica o gesto generoso do fazendeiro Andrelino de Morais, que doou cinqüenta alqueires de suas terras para a construção da cidade. Maria de Lourdes, filha de Andrelino, não participou da cerimônia. Com um grupo de amigas, ela percorria os barracões de madeira a procura de crianças, que ia matriculando para a futura escola que o pai já estava construindo na Vila Nova. A primeira escola da nova capital, mobiliada com carteiras importadas de São Paulo. Enquanto isso nas margens do Botafogo, Dona Maruca caprichava no tempero da comida. A pensão de Maruca era preferida dos funcionários graduados, freqüentada especialmente pelos engenheiros Abelardo e Jerônimo Coimbra Bueno, responsáveis técnicos pela construção .
Os operários, vindos de Minas, São Paulo e dos estados nordestinos, sonhavam construir um mundo novo, enquanto sentavam tijolos e levantavam o madeiramento dos telhados.A desilusão de Maria de Lourdes se fez mais rápido: seu nome não constou na lista de Professores nomeados para a nova escola.
CURIOSIDADES GOIANIENSES
O primeiro jornal intitulado "Goiânia", cujo primeiro número circulou a 20 de novembro de 1.935, data da instalação do Município e da Comarca de Goiânia, era dirigido e redatoriais por Guimarães Lima, Venerando de Freitas e Édson Hermano. Confessou, em seu editorial de apresentação, que aparecia exclusivamente para a propaganda da cidade. - O primeiro decreto de Goiânia foi de nº 560, de 13 de dezembro ainda de 1.935, determinando que se transferissem para a nova sede do Gabinete do Governo, a Secretaria Geral do Estado e a Casa Militar. Esse ato foi assinado com uma pena de ouro ofertada ao Governador e com a seguinte legenda: "Oferta do Povo Goiano ao Governador Pedro Ludovico, para assinar o Primeiro Decreto em Goiânia". - O primeiro orçamento do município de Goiânia (1.936) previa a arrecadação de uma receita de Cr$ 237.088,50. - A primeira Lei foi o de nº 52, da mesma data supra e concedia favores às famílias de prole numerosa, residentes no Estado. - O primeiro Secretário da Prefeitura de Goiânia, foi o Sr. Orlando Dias. - O primeiro Decreto Municipal data de 05 de Dezembro de 1.935, nomeando-o Sub-Prefeito para o Distrito de Hidrolândia. - O primeiro registro de nascimento, se deu a 10 de Janeiro de 1.936. Tratava-se de um garoto a que foi dado o nome de Goianí, filho do Sr. Germano Roriz e sua esposa, América do Sul Roriz, nascido a 05 de Abril de 1.935, ás 22 horas. - O primeiro casamento ocorreu ás 10:00 hs, do dia 23 de Janeiro de 1.936. Eram os noivos o Sr. Olavo Augusto de Santana e a Srtª. Ana Vitalina de Araújo. - A primeira visita de relevo social-administrativo foi do Sr. Thadei Grabowski, Ministro Plenipotenciário da Polônia, ocorrida a 27 de janeiro de 1.936. O ilustre hóspede, visitou a maioria das construções e foi homenageado com banquete, do qual tomaram parte os mais destacados elementos do Governo Estadual. -A primeira manifestação pública se deu a 12 de fevereiro de 1.936. Foi levada a efeito pelos servidores civis do Estado, como homenagem ao Governador pelo aumento de seus vencimentos, pela Lei nº 17, de 09 de Novembro de 1.935. - A 16 de fevereiro de 1.936 a Banda de Música da Força Policial, realizou sua primeira retreta em Goiânia, num tablado improvisado na Avenida Araguaia. - O carnaval de 1.936 (25,26 e 27 de fevereiro), foi o primeiro da Nova Capital. Houve intensa animação, ficando os festejos de Momo além da expectativa geral, Registram-se canções locais alusivas a mudança. - O primeiro óbito registrado ocorreu a 08 de março de 1.936, era de Jorge de Oliveira. - O primeiro desastre, se deu às 15 horas do dia 30 de março de 1.936, durante uma pavorosa tempestade abatida sobre a cidade. Um raio atingiu um sobrado em construção danificando-o e lançando por terra as pessoas que se abrigavam da chuva, umas das quais, chamada Doca. - O primeiro júri, realizou-se a 16 de abril de 1.936, sendo réus Antônio Vieira Borges, Heráclito Rufino e Pedro José Inocêncio, envolvidos num mesmo crime. Os jurados foram os Srs. Drs. Everardo de Souza, Arquimédes Rocha, Joaquim Augusto Santana, Milton Klopstock e Silva e José Mesquita que absolveram os presos por unamidade, dadas as circunstâncias do caso. - A data de 24 de outubro de 1.923, marcou o lançamento da Pedra Fundamental, onde hoje está o Palácio das Esmeraldas na Praça Cívica, local determinado pelo urbanista Atílio Corrêia Lima.
A TRAGÉDIA DO CÉSIO
13 de Novembro de 1.987. Dois sucateiros, Roberto Alves e Wagner Mota Pereira, percorrem o centro de Goiânia catando material para vender no ferro velho. No local conhecido como o buraco da Santa Casa (demolida alguns anos antes), eles penetram nos escombros do que fora o instituto Goiano de Radioterapia. E encontram o que lhes parece ser a coisa de valor. Um objeto todo coberto de chumbo, que carregam, quebram e desmontam. No ferro-velho dos irmãos Devair e Ivo Alves Ferreira maravilham-se com uma espécie de pedra do tamanho de um ovo, guardada dentro de uma cápsula de chumbo. Aquilo tem uma estranha luz nunca vista antes, será uma pedra preciosa? Uma mistura de curiosidade, cobiça, gestos de delicadeza e desinformação faz com que o objeto passe de mão em mão. Tão lindo que a menina Leide não resiste e lambe.
Tão raro, que um homem tira um pedaço para presentear a mulher. Outro esconde um pedacinho no bolso. Pode valer muito, ele pensa em vender. Horas depois de manusearem aquele objeto luminoso, as pessoas começam a sentir tonturas, vômitos, diarréias que não cessam com remédios caseiros. Eles se medicam como de costume, nas farmácias. Sem melhoras, alguns procuram hospitais e são tratados como portadores de doenças infecto-contagiosa. Também sem melhoras. Desconfiada, a mulher de Devair leva o que resta do objeto para a Vigilância Sanitária. Um médico suspeita que os sintomas apresentados sejam síndrome de radiação. Consultado, o físico Walter Mendes Ferreira confirmou. E deu o alarme. O objeto coberto de chumbo era uma bomba de césio-137. Da discriminação à solidariedade. Enquanto o Governador Henrique Santillo providenciava as primeiras medidas de socorro às vítimas e o isolamento dos locais supostos de contaminação, o pânico se espalhava em Goiânia. E em consequência da desinformação, também pelo país todo, viajantes de Goiás não conseguiam confirmar reservas em hotéis de outros estados brasileiros. O s negócios com produtos goianos foram suspensos internacionalmente. Henrique Santillo, fez então, uma série de viagens pelo país, para divulgar as reais dimensões do acidente. O esforço fez efeito, especialmente porque contou com o apoio generoso de artistas como Beth Faria, Lucélia Santos, Elizeth Cardoso, Stepan Nercessian, Alveu Valença, Fagner, Chico Buarque e muitos outros. Beth Faria deixou-se fotografar no Rio, ao lado de uma das vítimas hospitalizadas, demonstrando que não mais havia perigo de convívio social. A tragédia que ocorreu em Goiânia poderia ter acontecido em qualquer outra cidade brasileira, tendo em vista o descaso das autoridades responsáveis pelo controle e fiscalização de material radioativo. Morte e sofrimento não foram em vão: A constituição de 88 atualizou a legislação sobre uso e controle de material radioativo, definiu que cada Estado da federação é responsável pela guarda do lixo radioativo que produzir. E, ainda que incipiente, já existe no Brasil uma nova consciência sobre os riscos da contaminação nuclear.
BATISMO CULTURAL
Um luxo da cidade em construção
Teatro Goiânia
O representante do Estado do Piauí viajou 45 dias para aqui chegar. E não se arrependeu. A cidade que tinha perto de dez mil habitantes recebeu oito mil visitantes para as comemorações do Batismo Cultural, espécie de apresentação de Goiânia ao Brasil. Getúlio Vargas deu força, influindo para que aqui se realizasse o 8º congresso Brasileiro de Educação e a Assembléia Geral dos Conselhos do IBGE. Foram dias de discussões febris e excitantes, com destaque para o lançamento da revista Oeste, que reunia a intelectualidade. Seiscentos visitantes estrangeiros participaram das comemorações. No dia 5 de Julho de 1.942 a população despertou com o toque de alvorada, fogos de artifício contavam os céus da cidade. E, fato inesquecível, inaugurou-se o Teatro Goiânia.
No palco, a atriz Eva Todor, interpretando Deus lhe pague. Foi também no Teatro que Pedro Ludovico entregou a chave simbólica da cidade ao Prefeito Venerando de Freitas Borges. Eram 52 moças, que sempre se apresentavam em trajes de gala. Foram assunto de reportagem da revista "O Cruzeiro", em 1.960. Não era para menos, afinal nasceu em Goiânia a Segunda orquestra exclusivamente feminina do mundo. A idéia foi da então professora, hoje pianista internacional, Belkis Spenciéri. Muito aplaudidas, as moças tocaram para Juscelino Kubistscheck, em Minas Gerais. Mas, apesar do entusiasmo, o sonho acabou em três anos. Namorados e maridos ficaram enciumados. Feminismo à parte, a pianista Belkiss, que não é de desistência, reconhece que o repertório era pequeno e nenhum grande talento se destacou. Pioneiras do show biz, elas impressionavam pelo visual.
Orquestra Sinfônica Feminina
fonte : copilados do site http://www.felipex.com.br/goiania.htm
Gostei do post! Qual a sua fonte?
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